Projeto de estudo do texto poético do 9.º A

Desafiados a estudar a poesia através da metodologia de trabalho de projeto, os alunos da turma A do 9.º ano começaram por escolher o poema para estudar em grupo. Depois, analisaram-no e fizeram trabalhos para apresentar a sua análise aos colegas. Por último, em articulação com a disciplina de Educação Visual, fizeram a ilustração do texto, utilizando livros infinitos.
E cá estão eles, lindos!

Ó sino da minha aldeia, Fernando Pessoa

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.



Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

                      Sophia de Mello Breyner Andresen




Se estou só, quero não estar, Fernando Pessoa

Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.
Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis.
A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.
Recreio, Mário de Sá-Carneiro
Na minha Alma há um balouço
 Que está sempre a balouçar
 — Balouço à beira dum poço,
 Bem difícil de montar…
– E um menino de bibe
 Sobre ele sempre a brincar…
Se a corda se parte um dia
 (E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
 Morre a criança afogada…
– 
Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada…
Se o indez morre, deixá-lo…
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca…
Deixá-lo Balouçar-se enquanto vive…
– Mudar a corda era fácil…
Tal ideia nunca tive…
E tudo era possível, Ruy Belo
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança

e tudo era possível era só querer
III, José Gomes Ferreira
O tempo parou
no caminho para a escola
- musgo de voo,
asas de gaiola.
Às vezes no passado a morte é assim.
Continua-se vivo.
Só a gravidade muda de lei
- pedra que para sem peso no ar do jardim
e não torno a vê-la quebrar o vidro
que eu quebrei.

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