Muito merecido!

 

O terceiro desafio deste entusiasmante concurso presenteou-nos com 4 lindos trabalhos de alunos do 8.º C e F.

Os alunos tinham de maginar que Camões acordava no mundo de hoje e era confrontado com as incríveis mudanças tecnológicas introduzidas na sociedade atual. Qual seria a opinião dele sobre essa transformação tão disruptiva? Para explorar essa ideia, deviam construir um diálogo entre Camões e um cidadão do século XXI, no qual ele questiona os factos e expressa a sua opinião sobre a vida moderna, a comunicação instantânea e o impacto da tecnologia nas relações interpessoais. 

O júri deliberou e o texto vencedor é este, do Gustavo Mateus: 

Camões VS O Futuro (Ou: Quem me dera ter ficado em 1572)

(Camões acorda num banco de jardim, desnorteado. Olha em volta e vê um jovem com um telemóvel na mão.)

Camões: Ai de mim! Que feitiçaria é esta? Tamanha claridade, sem candeia e um povo que anda de olhos pregados a pedras mágicas?

Jovem: Eish, o senhor está bem? Parece que caiu de uma máquina do tempo…

Camões: Que dizeis, mancebo? Por acaso sois vós um mago? Como fazeis para falar com esse… esse artefacto brilhante?

Jovem: Isto? Um telemóvel. Dá para falar, ver vídeos, jogar… Basicamente, a vida toda está aqui dentro.

Camões: Vossa vida numa pedra? Pois se nas minhas epopeias soubera de tal engenho, muito trabalho me teria poupado!

Jovem: Pois, mas hoje em dia ninguém escreve epopeias. Agora há tweets.

Camões: Tweets? Não me digais que os pardais escrevem…

Jovem: Não, são frases curtas que se metem na Internet.

Camões: Internet? Por São Jorge! É pois um mar invisível onde se navega sem caravela?

Jovem: Exato! Até há sites que fazem poemas automaticamente.

Camões: Vil máquina! Usurpa a pena dos poetas!

Jovem: Mas, se quiser, pode pôr o seu Os Lusíadas online, assim chega a mais gente.

Camões: Antes escreveria eu mil sonetos à luz de velas do que confiar minha obra a esse espírito digital!

(Um carro elétrico passa, silencioso. Camões grita e esconde-se atrás do banco.)

Camões: E aquele monstro que rola sem corcéis? Feiticeiros!

Jovem: Calma, é só um Tesla. Anda sozinho.

Camões: Anda… sozinho?! Ora, por vossa mercê, dizei-me que em vossa era ao menos ainda há vinho!

Jovem: Claro! E agora há vinho sem álcool.

Camões: Sem álcool?! Levai-me de volta à batalha de Alcácer Quibir, que este mundo é mais cruel!

(O jovem ri. Camões levanta-se e avista um outdoor com uma influencer a fazer uma selfie.)

Camões: Santo Deus! Quem é esta donzela que se retrata e exibe ao povo?

Jovem: Uma influencer. Ganha dinheiro a pôr fotos na Internet.

Camões: Fotos? Como pinturas?

Jovem: Mais ou menos, mas sem precisar de pincel.

Camões: E ela é famosa por isso?

Jovem: Sim, tem milhões de seguidores.

Camões: Então, a fama já não vem da guerra, da poesia ou das descobertas, mas sim de fazer caretas para um espelho mágico?! Feliz fico eu! Que nunca no meu tempo se valorizavam coisas simples como a arte!

Jovem: Não é nada disso! Apesar de ela ter milhões de seguidores, tem vindo a perder cada vez mais. O mundo de hoje está cada vez mais a baixar a valorização da arte!

Camões: (desesperado) Mandai-me já de volta ao século XVI, que este novo mundo é uma epopeia… Mas de loucos!

(Fim – ou talvez o verdadeiro início da maior crise existencial da vida de Camões!)


Muito merecido! Parabéns, Gustavo!


(visite nossa biblioteca digital em https://bibliotecadigitalaesc.webnode.pt/)

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