Eis os resultados da votação do júri aos 4 textos a concurso que nos chegaram, para o 3.º e último desafio:
Camões VS O Futuro (Ou: Quem me dera ter ficado em 1572) - 578/600 pontos
E, agora, divulgamos os outros 3 fantásticos textos, que pela qualidade são também uns vencedores!
Camões na Era Digital
Lisboa.
Século XXI. Luís de Camões desperta, atordoado com os sons, luzes e movimentos
à sua volta. Os elétricos substituíram os cavalos, os barcos perderam as velas
e os rostos estão virados para pequenos ecrãs.
Um
jovem cruza-se com ele.
Camões: Por mil batalhas! Que realidade é esta, onde todos olham para tábuas de vidro e ignoram o mundo em redor?
Jovem: Olá! Estás bem? Nunca vi ninguém vestido assim… Isso que vês são telemóveis. Servem para comunicar, trabalhar, estudar, divertir… Tudo.
Camões: Te-le-mó-vel? E que encanto é esse que os prende como se fosse um feitiço?
Jovem: É só tecnologia. Temos internet, redes sociais, inteligência artificial, tudo em tempo real.
Camões: Tempo real? Pensava eu que todo o tempo era real. Mas se dizes que comunicam, porque vos vejo tão calados? Onde está o olhar direto, o toque sincero?
Jovem: Hoje a comunicação é rápida, prática. Enviamos mensagens, fazemos videochamadas. Não é preciso estar frente a frente.
Camões: Prática, sim… Mas onde fica o sentimento? A carta escrita à mão, o poema declamado ao luar? Há beleza na demora, sabedoria na espera.
Jovem: É tudo mais imediato. E também mais superficial, às vezes. Partilhamos imagens, frases curtas, emoções rápidas.
Camões: Vejo, então, que trocais profundidade por velocidade. Estais ligados, mas talvez desligados do essencial.
Jovem: Muitos sentem isso. Há solidão, ansiedade, apesar de estarmos “conectados”.
Camões: A tecnologia não é o mal, mas o uso que dela se faz. Se serve para unir, bem-vinda seja. Mas se distancia corações, que se repense o caminho.
Jovem: É difícil encontrar equilíbrio. Tudo acontece tão depressa…
Camões: A pressa rouba-nos o sabor das coisas. Um poema lido em segundos perde o seu poder. Um amor declarado por emoji perde a sua alma.
Jovem: Emoji?
Camões: Desenhos em vez de palavras? Ai de mim! Onde está o encanto da metáfora, o arrepio da rima?
Jovem: Ainda há quem escreva. Mas são poucos…
Camões: Então que se escreva mais. Que se sintam mais as palavras, que se viva mais devagar. Talvez assim se reencontre o que já se começa a perder: o verdadeiro contacto humano.
Lara
Mendes nº17, João Salvador nº16,
Camões nos dias de hoje
(Num jardim tranquilo junto ao Tejo, estava um jovem chamado
Tiago a olhar para o telemóvel quando apareceu, confuso, um homem de barba e
roupa antiga. Era eu, Luís de Camões.
Camões: Que mundo é este, tão ruidoso? Por onde anda Lisboa,
com o seu fado e as varandas?
Tiago: Eh… Está bem no meio dela, senhor. Mas quem é o
senhor vestido assim? Algum ator?
Camões: Ator? Não. Mas poeta fui. Camões é o meu nome —
talvez já tenhas ouvido falar de Os
Lusíadas?
Tiago com os olhos arregalados: Camões?! Tipo… O Camões? O
dos poemas épicos?
Camões: O mesmo. Mas dizei-me, por que andam todos curvados
sobre esses espelhos?
Tiago: Isto? É um telemóvel. Com ele falo com pessoas, tiro
fotos, vejo vídeos, leio livros…
Camões: Um só espelho faz isso tudo? Que feitiçaria moderna
é esta? E ainda há livros em papel?
Tiago: Ainda há, mas muitos leem em ecrãs. Há até inteligência
artificial que escreve textos, etc...
Camões: Que é da inspiração se as máquinas compõem o verso?
Tiago: Pois… É uma discussão que temos.
Camões: Tal como a caneta precisa da mão, imagino que esses
vossos espelhos precisam de propósito. Mas dizei-me: ainda se canta o amor?
Tiago: Ainda se canta, mas agora é mais com autotune. Mas o amo, esse continua complicado.
Camões: Ah! O amor não muda, apenas muda a forma como o
cantamos. Dizei-me, jovem: que valor tem hoje a palavra? Ainda há quem chore
por versos?
Tiago: Alguns sim, outros só choram por não ter WiFi.
Camões: O mundo corre, e talvez esqueça de sentir. E as
guerras? As viagens? Os heróis?
Tiago: Guerras há, mas não são com espadas. Agora são drones
e ciberataques. E os heróis… Bem, há quem os encontre em influencers.
Camões: Estranha forma de viver...
Tiago: E o senhor, o que faria se vivesse hoje?
Camões: Talvez escrevesse nas vossas redes sociais. Mas
nunca deixaria de falar ao coração.
Tiago: Sabe, acho que há muitos que ainda precisam de
Camões.
Camões: Então que venha o futuro, desde que não nos leve a
alma.
(Camões ergue os olhos para o céu, agradecido por ter vivido
um dia de hoje.)
O Despertar de Camões no Século XXI
Cena I – O Encontro Inesperado
Camões abre os olhos, confuso, sentindo o peso de séculos nas suas memórias.
As ruas que o cercavam eram uma amálgama de luzes e ruídos estranhos. Ao caminhar
desajeitadamente, encontra um jovem com um telemóvel na mão. Intrigado,
aproxima-se e diz:
— Jovem, onde estou? Que mundo é este que se revela diante de mim? — pergunta
Camões, com voz firme mas perplexa.
O cidadão do século XXI, surpreso pela indumentária peculiar e o tom poético,
responde:
— Estamos no ano de 2025. Parece que viajaste no tempo, senhor… Quem és tu?
— Sou Luís de Camões, poeta de Portugal e cantador de feitos de outrora. Mas
dizei-me, que engenho mágico é esse que manejais?
Cena II – A Descoberta da Tecnologia
O jovem levanta o telemóvel e tenta explicar.
— Isto é um smartphone. Com ele, posso comunicar instantaneamente com pessoas
em qualquer parte do mundo, aceder a informações, ler livros e até ver filmes.
Camões, espantado, aproxima-se para observar.
— Comunicação instantânea, dizes? Sem o uso de mensageiros ou cartas? É magia
ou ciência?
— Ciência, meu caro. A tecnologia avançou bastante desde o teu tempo. A nossa
vida depende muito destes dispositivos.
— Oh, quão distinta é a tua realidade da minha! Mas, dizei-me, esta facilidade
de comunicar não vos rouba o encanto do convívio pessoal?
Cena III – A Crítica à Modernidade
O jovem hesita antes de responder.
— Tens razão. Com tanta comunicação virtual, às vezes esquecemos de valorizar
os encontros presenciais. Muitos de nós vivem mais no ecrã do que no mundo
real.
Camões sorri, mas com um ar melancólico.
— Ah, que triste sina! A convivência, o calor humano, não deveriam ser
substituídos por estas frias engenhocas. O amor e a amizade precisam de
olhares, toques e palavras ditas com emoção.
Cena IV – O Impacto da Velocidade
— E sobre a rapidez da informação? — pergunta o jovem. — Hoje podemos saber
o que acontece no outro lado do mundo num instante.
Camões pondera antes de responder.
— É verdadeiramente notável, mas pergunto-me se não vos sobrecarrega a alma. A
pressa de saber tudo e de tudo responder não vos priva da calma necessária para
a reflexão? O meu tempo era lento, mas cada palavra escrita carregava peso e
intenção.
Cena V – A Arte na Era Digital
O jovem, entusiasmado, partilha mais.
— Também podes ler poesia e literatura no telemóvel. Todos os grandes poetas,
como tu, estão agora ao alcance de todos!
Camões ergue as sobrancelhas, impressionado.
— Isso é digno de louvor. Porém, questiono: será que os leitores ainda apreciam
o valor da palavra escrita? Ou consomem tudo de forma ligeira e sem verdadeira
compreensão?
— Alguns ainda o fazem, mas muitos preferem conteúdos mais curtos e simples.
— Que pena, jovem! Pois a arte merece dedicação e tempo.
Cena VI – A Despedida Reflexiva
Camões olha para o céu iluminado pelas luzes artificiais.
— Jovem, este mundo assombra-me pela sua grandeza, mas aterroriza-me pela sua
pressa e solidão. Não desprezeis a tecnologia, mas cuidai para que ela não vos
roube a humanidade.
O jovem acena, emocionado.
— Obrigado pelas tuas palavras, Camões. Dás-nos algo em que pensar.
O poeta sorri e começa a caminhar. Embora deslocado, sente que sua missão de
observar, questionar e inspirar permanece viva, mesmo neste novo mundo.
Ivan Roque 8⁰C
(visite nossa biblioteca digital em https://bibliotecadigitalaesc.webnode.pt/)
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