1º ciclo
“O Inverno”, de Eugénio de Andrade
Velho, velho, velho.
Chegou o inverno.
Vem de sobretudo,
vem de cachecol,
o chão onde passa
parece um lenço.
Esqueceu as luvas
perto do fogão:
quando procurado,
roubara-as um cão.
Com medo do frio,
encosta-se a nós:
dai-lhe café quente
senão perde a voz.
Velho, velho, velho.
Chegou o Inverno.
Rimas -
Rima Lina com buzina,
Joana com Tarlatana,
Rima sardinha com espinha
ea chama com quem a inflama.
Rima o selo com a carta,
Rima o Zé com a Maria,
Rima o Júlio com a Marta,
Rima o barco com baía.
Rima o Luís sem decidir
Com a sensata Susana,
Rima a Luísa só riso
Com o bisonho Pestana.
Rimam viola e cantigas,
Rima frio com calafrio,
Rimam direitos e urtigas,
Rima Bugio com navio.
Rima tudo ou se não rima
Rima quase, rente à escama
Da tainha, que é menina,
Com o robalo que a chama
E o nabo rima com a rama.
Rima o pão com manteiga,
Rima antes com depois,
Rima meiguice e carinho
E nós rimamos os dois.
Tomar
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais ...
Vinícius de Moraes
Nirvana
Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;
Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;
Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;
Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!
Antero de Quental
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