Diga Bom Dia com Poesia!

 Durante esta semana, vamos iniciar todos os dias com poemas selecionados para cada um dos ciclos.

E os de hoje foram:

1º ciclo

“Canção de Embalar Bonequinhas Pobres”, de Matilde Rosa Araújo

 

CANÇÃO DE EMBALAR BONEQUINHAS POBRES

 

Menina dos olhos doces

Adormece ao meu cantar:

Tenho menina de trapos,

Tenho uma voz de luar…

 

Os meus braços são a Lua,

Quando ela é o crescente:

Dorme menina de trapos,

Meu pedacinho de gente.

 

Dorme minha filha triste,

Meu farrapo de menina,

Dorme, porque eu sou a nuvem

Que te serve de cortina.

 

Menina dos olhos doces

Adormece ao meu cantar:

Tenho menina de trapos,

Tenho uma voz de luar…

 

2ºciclo

Ibéria

Terra.
Quanto a palavra der, e nada mais.
Só assim a resume
Quem a contempla do mais alto cume,
Carregada de sol e de pinhais.

Terra-tumor-de-angústia de saber
Se o mar é fundo e ao fim deixa passar...
Uma antena da Europa a receber
A voz do longe que lhe quer falar...

Terra de pão e vinho
(A fome e a sede só virão depois,
Quando a espuma salgada for caminho
Onde um caminha desdobrado em dois).

Terra nua e tamanha
Que nela coube o Velho-Mundo e o Novo...
Que nela cabem Portugal e Espanha

 

Miguel Torga, POEMAS IBÉRICOS


3º ciclo

Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…

                                               Cecília Meireles

secundário

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. –
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu.

 

                                    Fernando Pessoa

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