Estes são os nosso poemas de quarta-feira
Pré-escolar/1.º ciclo
A SOMBRA
Não tem cara, a tua
sombra.
Será feia ou bela?
E é ela a tua sombra
ou és a pessoa dela?
Quem é esse, quem é essa
que vai sempre ao teu
lado,
caminha se tu caminhas
e para se ficas parado?
Onde tu vais, ela vai.
O que tu fazes, ela faz.
Não sabe fazer mais nada.
E é rapariga ou rapaz?
Não tem cara, a tua sombra. (…)
Tu e a tua sombra
nunca se irão despedir,
nem ela pode apanhar-te,
nem tu podes fugir
Quem me dera ser essa
sombra,
sempre ao teu lado, até ao
fim,
a repetir o que fazes,
gesto por gesto, tintim
por tintim.
Não tem cara, a tua sombra.(…)
Álvaro Magalhães
2.º ciclo
Ter um amigo é maravilhoso
Ter um amigo
é maravilhoso.
Ser amigo de alguém
ainda melhor;
é como recordar
e sentir o Sol a brilhar.
Um amigo é alguém
com quem se está bem.
Mas um amigo
é muito mais do que isso!
É alguém que pensa em ti
quando não estás aqui.
Nunca se está realmente só
quando se tem um amigo.
Amigo é uma palavra bonita.
É quase
a melhor palavra!
Sophia de Mello Breyner Andresen
Andar?! Não me custa nada!
Andar?! Não me custa
nada!...
Mas estes passos que
dou
Vão alongando uma
estrada
Que nem sequer começou.
Andar na noite?!Que
importa?...
Não tenho medo da noite
Nem medo de me cansar:
Mas na estrada em que
vou,
Passo sempre à mesma
porta...
E começo a acreditar
No mau feitiço da
estrada:
Que se ela não começou
Também não foi acabada!
Só sei que, neste
destino,
Vou atrás do que não
sei...
E já me sinto cansada
Dos passos que nunca
dei.
Natália
Correia,
de Rio de Nuvens (1947)
secundário
A POESIA VAI
A poesia vai
acabar, os poetas
vão ser
colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo,
observadores de pássaros
(enquanto os
pássaros não
acabarem).
Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição
pública.
Um senhor
míope atendia devagar
ao balcão;
eu perguntei: «Que fez algum
poeta por
este senhor?» E a pergunta
afligiu-me
tanto por dentro e por
fora da
cabeça que tive que voltar a ler
toda a
poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta
numa cabeça.
— Como uma
coroa de espinhos:
estão todos
a ver onde o autor quer chegar? —
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