Cá estão as nossas poesias de sexta-feira!
1.º ciclo
AS PALAVRAS MAL CASADAS
Palavras que se dão mal,
palavras que são zangadas,
são palavras mal casadas,
são palavras mal casadas.
Sabiam que a palavra Bolo
casou com a palavra Bola?
Parecia que era bem jogado,
mas não deu resultado.
Ele sempre na cozinha
a ser bolo de cereja;
Ela a ver televisão
e sempre a beber cerveja.
Palavras que se
dão mal (…)
Só falavam quando não
dava bola na televisão.
E se o Benfica perdia…
sossego é que não havia.
E que mais aconteceu,
perguntam vocês agora?
A palavra Bolo cansou-se
daquela vida e foi embora.
Palavras que se
dão mal (…)
Casou c’uma bola de Berlim
que viu na montra do “Doção”
não gostava de futebol,
nem de ver televisão.
E a palavra Bola saiu
de casa, num dia de sol.
Anda por aí a rolar
num campo de futebol.
Palavras que se
dão mal (…)
2.º ciclo
Perdidamente
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil
desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é
ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te,
assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!
Florbela
Espanca
3.º ciclo
Garota de Ipanema
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
é ela menina, que vem e que passa
Num doce balanço a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
é a coisa mais linda que já vi passar
Ai! Como estou tão sozinho
Ai! Como tudo é tão triste
Ai! A beleza que existe
A beleza que não é só minha
E também passa sozinha
Ai! Se ela soubesse que quando ela passa
O mundo interinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor
Só por causa do amor…
Vinicius de
Moraes
secundário
Os
erros
A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida - o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos
Deverá tudo passar a ser passado
Como projeto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?
Sophia de Mello Breyner Andresen
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