Estes são os nosso poemas de terça-feira
Pré-escolar/1.º ciclo
CENTOPEIA
Centopeia, centopeia,
Não é linda nem é feia.
Era uma vez uma centopeia
Não era linda nem feia.
Não saía sem calçar
Um sapato e uma meia
Mas são cem as patas dela
ou já não era centopeia;
e só pr’apertar cordões
precisa de uma hora e meia
Centopeia, centopeia (…)
Convidei-a para lanchar
mais do que uma vez
Chegava a sempre atrasada
se queria chegar calçada.
Às vezes, só tinha tempo
De calçar cinquenta sapatos
cada qual com sua meia.
Mas era só uma cinquentopeia.
Centopeia, centopeia (…)
Diz-me lá tu quantas patas
uma centopeia tem?
Tem dez, trinta, quarenta,
sessenta, noventa, cem?
E se tem cem patas,
quantos sapatos tem?
Tem cem sapatos
cem pares de meias também.
Centopeia, centopeia (…)
Poema de Álvaro Magalhães
2.º ciclo
Diz o Avô
Tens cabelos brancos.
Mas porquê, avô?
Caiu muita neve
na estrada onde vou.
Tens rugas na face.
Mas porquê, avô?
Bateu muito sol
na estrada onde vou.
Tens olhos baços.
Mas porquê, avô?
Pousou nevoeiro
na estrada onde vou.
Tens calos nas mãos.
Mas porquê, avô?
Parti muita pedra
na estrada onde vou.
Tens coração grande.
Mas porquê, avô?
Nele mora a gente
que por mim passou.
Luísa Ducla Soares
3.º ciclo
As
pessoas sensíveis
As pessoas sensíveis
não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a
pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
“Ganharás o pão com o suor do teu rosto”1
Assim nos foi imposto
E não:
“Com o suor dos outros ganharás o pão”
Ó vendilhões do templo2
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Sophia de Mello Breyner Andresen,
secundário
Não
posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na
garganta
ainda que o ódio estale e
crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos
sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro
século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa,
in "Viagem Através de uma Nebulosa"
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